domingo, 6 de dezembro de 2009

Augúrios de Outubro nº4

Amar, não amar…Como se insinua este sentir, qual coluna tão levemente pesada? O amor surge como o nascer do sol. Está-se distraído e de repente é luz, é dia. Descobrimos a invencibilidade que desconhecíamos ter. Descobrimos que outro (sua sorte e infortúnio, beleza, sabor e sentir) é mais importante para nós do que nós próprios. «Eu amo-te» torna-se a oração, a canção da vida, o caminho sem dúvida. Sim, depois tornamo-nos descuidados. Temos tendência para assim ser com quem mais está dentro de nós. Desperdiçamos a nossa riqueza e claridade. Quando olhamos em volta, de olhos fechados, é a noite que vai caindo. E somos então de novo crianças com medo do escuro. Então, no meio da queda que não se sabe estar a dar-se, surge esse abismo, essa consciência da noite: «Eu já não te amo». A vida, tal como a conhecíamos, deixa de existir. Deixa de haver força ou desejo de pensar em porvir. Choram-se os porquês, os porque não… A matemática frieza com que nos apercebemos que já não fazemos vibrar o ser amado. Na verdade, morre-se e outro vai nascendo em nosso lugar. Um outro talvez mais forte e sereno, num amanhecer absolutamente no horizonte. E nos entardeceres do solstício de Verão, uma suave brisa trará sempre uma nostalgia, um pesar, mas também alegria. E o pensamento será: uma recordação é algo que se tem ou algo que se perdeu?

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